terça-feira, 23 de julho de 2013

Era Android


Durante uma oficina de brinquedos no SESC Santana, observei o quanto as crianças estão diferentes.
A proposta era fazer um pião de jornal, algo simples mas que requeria muita paciência e observei já no início que eles não tinham muita intimidade com o papel, inclusive o jornal.
O primeiro passo era enrolar o jornal de maneira que ficasse um tubo mas para dar certo teria que seguir a mesma medida o tempo todo, aí é que foi o desfio, as crianças que variavam a idade de 05 aos 9 anos, tiveram muita dificuldade e perderam a paciência varias vezes, mas foram até o final.
Enrolaram, colaram as extremidades, enrolaram no palito e passaram cola, a criançada participou, mas percebi a ansiedade delas terminarem rápido e brincar .

Diante de tudo isso, refleti o tanto que essas crianças estão crescendo numa era onde tudo é pronto, onde as brincadeiras mais simples se tornaram em brinquedos industrializados que a criança basta apertar o botão e começa a brincadeira, O simples ato de fazer bolhinhas de sabão com água, detergente e canudinho, já existe brinquedo que você liga e o “elefantinho” solta as bolhas. E as brincadeiras de pular corda ? Foram substituídas por bolsinhas de maquiagem e esmaltes, bem mais isso já é outra história.
As crianças não se motivam em construir os brinquedos, tudo ficou tão digital... que usar dobradura, réguas e outros materiais para construção tornou –se algo enfadonho, sem jeito, hoje a maioria das crianças apresentam dificuldade para manipular esses materiais , pois encontram tudo pronto e a satisfação dos seus desejos é imediata, isto faz com que ela rapidamente procure outra brincadeira para obter mais satisfação. Esta busca constante de satisfação prazer leva a criança a não ter paciência e gera a ansiedade pela busca do novo a todo momento.
E assim é possível explicar a “febre” dos vídeos games e dos jogos na internet , eles são rápidos tem o ganhar imediato e a troca de desafio a todo momento.
Mas não podemos perder de vista que, a humanidade já passou por estas transformações onde tudo era artesanal e de repente veio a indústrialização e foi preciso aprender a manipular a máquina e se especializar, houve resistência sim, mas a industrialização está na nossa vida e é imprescindível para a nossa sobrevivência, veio a era da tecnologia o mito que o computador ia pegar o lugar do homem e outra vez a resistência e hoje não vivemos sem ela . Mas isso reduziu a capacidade de criar, de fazer, do brincar, experimentar o mundo sem ser pela internet. Tudo está muito pronto, pouco precisamos pensar, encontramos tudo no Google, esperar nem pensar...
As crianças estão na Era Android

Silvana Abrahão

domingo, 21 de julho de 2013

Homeschooling, bem ou mal????

Fora da escola, dentro de casa
Autor(es): Leonardo Vieira - O Globo - 08/07/2013
Polêmico projeto de lei a favor do ensino domiciliar tem oposição do MEC; grupo de pais defende prática

Doce lar. Escritora de livros infantis, Flávia Beck defende o ensino domiciliar dos filhos Rafael, de 6 anos, e Gabriela, de 10: "Achamos que as escolas aqui são fracas", diz ela.

Desafio. Portador de necessidades especiais, Arthur, de 8 anos, aprende a contar com sua mãe, Consuelo Martin
A rotina de estudos começa cedo para os irmãos Rafael, de 6 anos, e Gabriela, de 10. A dupla mal acorda e já está em aula, às 8h, aprendendo lições de disciplinas como Português, História e Geografia. Na parte da tarde, Gabriela se concentra em aulas de música, enquanto o caçula prefere praticar seu traço com desenhos. A rotina descrita poderia se passar numa escola, mas acontece no apartamento em Jacarepaguá onde moram as crianças, que estão sendo educadas pelos pais, Flávia e Tom Beck. Rafael e Gabriela não estão matriculadas num colégio.
- Achamos que essa forma de ensino é mais eficaz que uma escola, e trabalhamos a autoestima deles. Que colégios oferecem um psicólogo apenas para isso? - argumenta o pai, Tom, filósofo e professor de português e inglês.
Eles não estão sozinhos, mas são uma minoria. De acordo com a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (Aned), há 800 famílias no país declaradamente adeptas de uma forma de ensino não regulamentada no Brasil. Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), é dever dos pais ou responsáveis matricular na escola os filhos com idades entre 4 e 17 anos. Em alguns países, porém, a prática é reconhecida. Nos EUA, por exemplo, estima-se em 2 milhões o número de famílias adeptas do homeschooling .

Em 12 de junho último, entusiastas da educação caseira foram a uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, onde tramita o Projeto de Lei 3179/12, que propõe a inclusão da educação familiar na LDB. Mas a ideia está distante de atrair um consenso.
Enquanto especialistas em educação se dividem sobre o tema, o próprio Ministério da Educação se posiciona contra. "A proposta de ensino domiciliar não apresenta amparo legal, ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a LDB e a própria Constituição Federal. O entendimento do parecer é de que a família não deve privar seus filhos do convívio escolar, sendo que cabe obrigatoriamente ao Estado o dever de assegurar a educação escolar das crianças e adolescentes", alegou o MEC em nota ao GLOBO.

- Quem pratica o homeschoolling afirma que uma das razões para educar os filhos em casa é a baixa qualidade do ensino no Brasil. Mas se a qualidade é baixa, devemos melhorar a escola, e não abandoná-la. Além disso, a criança não cria espírito coletivo. Desenvolve-se um individualismo exacerbado - critica o professor Carlos Alberto Cury, da Faculdade de Educação da PUC-MG.

Pelo texto do projeto de lei, só seria possível regulamentar a prática se observadas "articulação, supervisão e avaliação periódica da aprendizagem pelos órgãos próprios desses sistemas, nos termos das diretrizes gerais estabelecidas pela União e das respectivas normas locais".
Para aulas do ensino básico, a família Beck diz que segue o modelo curricular do MEC e compra material escolar recomendado no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Como se ambos cursassem o ensino fundamental, Rafael lê obras referentes à 1º série, enquanto que Gabriela estuda em material pedagógico do 5º ano.
Flávia sabe que vai precisar de auxílio quando os filhos chegarem ao currículo do ensino médio. Professores particulares são uma opção, mas o casal espera contar também com o intercâmbio existente entre pais adeptos da mesma prática. Se numa casa, a mãe é formada em Ciências Humanas e pode dar aulas de História, por exemplo, e, em outro, o pai tem diploma na área de Ciências Exatas, essas duas famílias ensinam conjuntamente seus filhos.
- Queremos que eles façam faculdade, que tenham uma carreira. Apenas achamos que as escolas aqui são fracas - comenta Flávia, que é escritora de livros infantis. - Quando chegar a hora, vamos orientar nossos filhos a se inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Assim, eles poderão obter o certificado de conclusão do Ensino Médio.
O artigo 246 do Código Penal define como abandono intelectual "deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar". Mas, de acordo com o advogado Alexandre Magno, diretor jurídico da Aned, quem educa seus filhos em casa não está, "de maneira alguma", cometendo uma infração.
- O que está na lei é deixar de instruir o filho na idade obrigatória, mas não cita a escola. Não há risco de ser punido criminalmente. O Código Penal não se refere à escola, mas, sim, à instrução - interpreta Magno.
EM MINAS, CASAL FOI CONDENADO A PAGAR MULTA
Não foi este, porém, o entendimento da Vara de Infância de Juventude do município mineiro de Timóteo. Em 2010, após denúncia do Conselho Tutelar local, o órgão condenou Cléber e Bernadeth Nunes a pagar uma multa hoje estimada em R$ 9 mil. Esta foi a primeira condenação desse tipo no país, segundo a Aned.
Habituados desde pequenos a estudar, principalmente, o conteúdo pelo qual nutriam interesse, os irmãos Jônatas e David Nunes, hoje com 19 e 20 anos respectivamente, foram, na época, obrigados a prestar uma bateria de oito exames teóricos. O objetivo era comprovar, ou não, o abandono intelectual. Mas a dupla, que havia saído da escola ainda no ensino fundamental, foi aprovada em todos os testes.
- No final, provamos que abandono intelectual é diferente de abandono escolar. Ficamos felizes - resume o pai, Cléber Nunes.
Numa sala de aula improvisada em casa, na Ilha do Governador, Arthur de Freitas Machado Martin, de 8 anos, aprende a contar até dez. Ele é portador de necessidades especiais. Segundo a mãe, a advogada Consuelo Martin, não houve diagnóstico preciso sobre sua condição. O menino, que ainda não fala, está matriculado numa escola particular. A LDB não faz qualquer distinção sobre crianças com necessidades especiais ao deixar claro que todas devem estar na escola. Mas a advogada prefere educar o filho em casa, com direito a apoio de terapeuta a psicopedagogo, e pretende montar uma "escola informal" em casa.
- Em nenhuma escola o meu filho vai receber a atenção que tem em casa - diz Consuelo.
Pais acham ambiente escolar pobre e nocivo.

Na pesquisa "Escola? Não, obrigado: um retrato da homeschooling no Brasil", o sociólogo da UnB André de Holanda ouviu 62 pais que educam seus filhos em casa, residentes em 12 estados, de todas as regiões brasileiras. Como parte do trabalho, que compõe sua dissertação de mestrado na UFMG, Holanda entrevistou oito pais e mães para entender os motivos da adoção da educação domiciliar.
Segundo ele, as motivações religiosas e/ou morais foram manifestadas por todos entrevistados. O pesquisador destaca também que a maioria dos pais (76%) considera o ambiente de socialização escolar nocivo: todos citaram experiências negativas sofridas nas escolas da parte dos filhos ou deles mesmos.
Também aparecem as motivações pedagógicas e as alegações de que o ensino regular ou o ambiente de aprendizado convencional é pobre (53%). Holanda acrescenta que mais da metade dos pais-educadores adota algum modelo de aprendizagem na educação domiciliar, tipicamente com currículos e horários de estudo pré-estabelecidos por eles.
De acordo com a pesquisa, três em cada dez pais consideram "eclética" a abordagem pedagógica que aplicam aos filhos, o que sugere a ocorrência de experimentações e combinações de métodos e filosofias educacionais diversas. Os filhos educados em casa têm 8 anos, em média, e começaram a ser educados nessa modalidade com 6.
- As crianças de famílias que adotam a educação domiciliar desenvolvem criatividade e independência. Eles adquirem mais habilidade empreendedora - observa Holanda.
Já para o pedagogo Ruda Ricci, presidente do Instituto Cultivar, o que está por trás do debate é o dilema entre o direito individual versus o autoritarismo do Estado. Nessa dicotomia, Ricci prefere se posicionar defendendo o dever estatal de prover educação formal, pois a escola estimularia a sociabilidade e a solidariedade.
- A ideia da educação familiar parte do princípio de que você terá sucesso individualmente, coisa que não aprenderia na escola. Mas eu não vou à escola só para aprender o que vai cair no vestibular, mas também para aprender a conviver com o diferente. A escola tem uma função de sociabilidade.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

GERAÇÃO Y: seja curioso, saiba ouvir, conheça a si mesmo – entrevista com Eline Kullock


Marcelo Miranda

O post de hoje é um bate papo com Eline Kullock, presidente do Grupo Foco e especialista em RH e geração Y. Muitos defendem que a geração Y tem características e comportamentos diferentes no mercado de trabalho diferentes de outras gerações, outros defendem que são como qualquer geração jovem que chegou ao mercado de trabalho. Estudiosa do tema, nas suas respostas Eline dá valiosas dicas e conselhos aos jovens sobre caminhos a seguir neste mercado de trabalho de tantas mudanças e incertezas.
Entrevista com Eline Kullock


Marcelo Miranda – Eline, você é especialista em geração Y. Quais as características principais desta geração?
Eline Kullock – Esta geração tem um modelo mental diferente de outras gerações. Se verificarmos em termos de história, nossa geração Y ( falo de Brasil) encontrou um Brasil democrático, BRIC, com uma inflação pequena ( dizem…) com pleno emprego. Foi educado por uma geração que estava cansada do momento autocrático, que saiu as ruas pelo fim da ditadura, que presava o conceito de “paz e amor”. Cresceu num momento em que o tamanho das famílias diminuiu e cada família pode dar mais atenção aos seus filhos. Viveu num momento onde os educadores e sociólogos diziam para que seus pais e a escola não “castrasse o potencial criativo dos seus filhos e alunos. Puderam questionar seus pais, argumentar, discordar. Em função da tecnologia exponencial desenvolvida enquanto cresceram, passaram a ensinar os pais a lidar com os novos “gadgets” do mercado e por isso mesmo se sentiram mais “pares” dos seus pais, e menos “filhos”. Com tudo isso, é uma geração que aprende com seus pares, que aprende na base da tentativa e erro, que toma decisões mais rapidamente ( porque está acostumado a tomar decisões nos jogos eletrônicos), que funcionam melhor em grupo. Ao mesmo tempo não tem resistência a frustração, não lidam bem com autoridade, está acostumada a funcionar num modelo que, quando as cosas não funcionam, é possível adotar o modelo “delete and restart”.

Marcelo Miranda – Na sua opinião como o jovem com essas características pode se sobressair na carreira? Quais os comportamentos que você avalia que podem ser favoráveis?
Eline Kullock – Esse jovem é corajoso e curioso. Questiona as ordens, não aceita facilmente as opiniões dos outros. Aprendeu em casa que questionar é possível. Da mesma forma, vai questionar mais as ordens e instruções. Embora isso seja cansativo pra sua chefia pode, a médio prazo, ser uma atitude melhor pra empresa, que se renova com os questionamentos. O jovem da geração Y toma decisões de forma mais rápida que outras gerações, também influenciado pelos jogos eletrônicos e pela velocidade da tecnologia, de forma geral. Isto é pré requisito fundamental nesses novos tempos, onde temos mais variáveis na equação das organizações e onde lançar mais rapidamente um produto ou serviço pode ser determinante. Se ele questionar sem destruir ( às vezes este jovem não sabe bem como colocar suas insatisfações ou questionamentos e pode ser agressivo), se ele souber entrar com argumentos consistentes, se souber a hora certa de fazer os questionamentos, ele pode agregar muito para as organizações. Ele certamente vai trabalhar bem em times, porque sempre agiu assim e conviveu em times quer virtualmente quer presencialmente. Vemos, nesses movimentos de questionamentos da população, a vontade de trabalhar e fazer as reivindicações sem um líder claro. Todos são iguais. Não se aceitam partidos ou pessoas que queiram assumir a liderança do povo. O poder é compartilhado, Certamente ele será mais democrático nas organizações.

Marcelo Miranda – Como o jovem deve fazer para saber se relacionar com as outras gerações? Como transitar bem? Como reportar para outras gerações?
Eline Kullock – A primeira coisa para saber se relacionar bem com outra geração é reconhecer que há modelos mentais diferentes. Compreender que o outro é diferente, pela forma como foi educado, pela comunidade onde cresceu, pela sociedade que mudou. Quando eu me sentei pela primeira vez com meu filho para jogar “Wii”, peguei os controles e perguntei: Como eu faço pra jogar agora? E ele não compreendeu a pergunta. Para ele era claro que eu ia começar a jogar até entender como funcionavam os comandos e a lógica do jogo. Eu vim de um mundo onde tudo era explicado por um manual. Somos diferentes em vários aspectos e somos complementares em vários momentos. Aprender a respeitar estas diferenças é fundamental. Compreender que cada geração pode agregar valor ao objetivo da empresa é vital para a organização. E não ficar dizendo que uma geração é melhor do que a outra, porque isto não existe. Todas as gerações são boas e construtivas, cada época teve os seus pontos positivos. Tentar esclarecer opiniões divergentes quando o modelo mental difere é importante. Se eu penso de uma forma diferente do meu chefe, posso dizer isso a ele e questionar se esta diferença se dá porque são gerações distintas olhando pro mesmo problema. Sempre sabendo que a forma da geração Y questionar é mais direta ( o que pode ser agressivo na percepção dos chefes) e que a agressividade pode criar uma resistência a resolver o problema.

Marcelo Miranda – Qual a melhor maneira para o jovem aprender a lidar melhor com as frustações que certamente encontrará na carreira?
Eline Kullock – Nós vivemos numa época onde a velocidade foi se tornando mais importante. Se você não responde um e-mail no mesmo dia, ou se não devolve uma ligação telefônica no mesmo dia, você não é rápido o suficiente. Ser rápido passou a significar capacidade de enfrentar o mundo. Criamos o internet banking, os drive-thru, queremos internet mais rápidas , não aguentamos nem esperar pelo elevador! Quando eu explico que na minha época, meu e-mail era a carta, que demorava 10 dias pra chegar ao seu destinatário e mas 10 dias para o encaminhamento da resposta, os jovens riem. Já existem casamentos drive thru e enterros drive thru. Vivemos num mundo acelerado que não se organiza tão rapidamente para lidar com a rapidez da vida. Nem a legislação, em a escola, nem as outras instituições são tão rápidas. Certamente os jovens vão se frustrar com o tempo de tomada de decisão das organizações. Quando o jovem está no seu barquinho a remo, na sua vida, ele vira o seu barco 180 graus na hora em que quer. Quando entra no grande navio que é a corporação, este navio não vira tão rapidamente quanto ele gostaria. A empresa leva um tempo para digerir e promover mudanças. Como a legislação, como a escola. É necessário uma grande dose de paciência ( palavra que o jovem, de maneira geral, tem muita dificuldade em assimilar). Encontre um coach com quem conversar, um tutor, enfim, vá falar sobre as suas frustrações. Mas não saia correndo de uma organização em busca de outra porque você se confrontará com a questão de ritmo em quase todas.
Marcelo Miranda – Qual a melhor maneira para o jovem aprender a lidar com tanta informação disponível?
Eline Kullock – Eu acho que é necessário uma capacidade de filtrar as informações relevantes e suficientes enorme, no mundo de hoje. Saiba pesquisar sempre, obter a informação necessária sempre, mas saiba onde há armadilhas, onde e quando a informação é confiável, e saiba quando parar de buscar informações porque a quantidade de notícias é enorme. As diferentes versões existirão sempre. Saiba ser analítico e não acreditar sempre nas versões recebidas. Saiba procurar uma opinião contra a que você acreditou, para ter mais convicção na hora de defender seus pontos de vista. A capacidade de analisar uma situação ou um problema será determinante na sua carreira. Saiba ser profundo nas suas análises e para ser capaz de fazer isto, frequentemente, é bom compreender os dois lados da moeda. Saiba fazer análise e síntese.

Marcelo Miranda – Quais os três conselhos para os jovens para se desenvolverem e crescerem profissionalmente?
Eline Kulock – Talvez, Marcelo, eu já tenha dito ao longo desta nossa conversa, os meus três conselhos básicos.
O primeiro é “seja curioso”. A curiosidade é o primeiro passo da criatividade, da inovação. Quem não questiona não cria nada novo. Então, pergunte sempre, pense em alternativas para um dado problema e não numa solução única. O mundo muda por pessoas que não se conformam com questões que eles acreditam que podem ser modificadas. Crianças são curiosas por natureza. Faça esta mágica permanecer em você.
O segunda conselho que eu daria é “saiba escutar”. Deixe que os outros falem e só então crie sua própria opinião. Escute feedbacks, pontos de vista, sem preconceitos. Ninguém é dono da verdade e você pode estar aplicando a decisão errônea para um determinado problema. Essa maturidade, essa capacidade de esperar para ter certeza de uma opinião, vai permitir que você faça uma análise mais profunda na hora da tomada de decisão. Não seja impulsivo. Saiba fundamentar sua decisão com uma vasta gama de motivos.
A terceira orientação é conheça seus pontos fortes e pontos a serem desenvolvidos. E para reconhecer pontos fracos é necessário muita maturidade. É preciso estar muito seguro de si, e as pessoas inseguras tem mais dificuldade em aceitar críticas. Peça sempre um feedback do seu comportamento. Pergunte aos seus chefes, aos seus pares e aos seus subordinados. Escute ( recomendação número 2!!). Peça exemplos de onde e quando se comportou desta ou daquela maneira. Não contra argumente quando confrontado com um ponto a ser desenvolvido. Peça mais exemplos e confirme as possibilidades com outros colegas. Em locais adequados a uma boa conversa íntima, com o tempo necessário para que o outro possa desenvolver sua tese. Lembre-se sempre que todos tem pontos a desenvolver. E pontos fortes, com certeza.

Marcelo Miranda – Qual sua opiniáo para como o gestor da geração X ou baby-boomer para lidar com equipes com jovens da geração Y da melhor maneira?
Eline Kullock – Para que o gestor possa lidar bem com todas as gerações é necessário primeiramente que ele entenda que as gerações pensam de forma diferente. Que cada geração terá suas demandas específicas. A Geração Y se ressente da baixa frequência de feedback, por exemplo. A Geração Y quer reuniões mais rápidas e processos menos engessados. Escute cada demanda e compreenda que nem todos pensam com sua cabeça, baseados no seu conjunto de crenças e vivências. Dê espaço para que coloquem seus pontos de vista. Nenhuma opinião ou pergunta é boba. Todas são válidas. Saiba se colocar no lugar dos outros. Ver a vida pelo olhos deles. Saiba criar espaços onde as pessoas podem reclamar, questionar, abrir debates. As pessoas precisam disso e vão confiar mais em você se você confiar mais nelas. Não deixe de colocar suas próprias opiniões. Você tem suas próprias opiniões, claro, e deve explicitá-las, mas ouvir outros pontos de vista só farão de você um gestor mais completo.

Perfil: Eline Kullock
Eline é presidente do Grupo Foco, consultoria que fundou há 19 anos e hoje conta com 250 funcionários e 8 filiais nos estados mais importantes do Brasil...
...Eline escreveu diversos artigos para jornais e revistas, discutindo as tendências das organizações e seus funcionários, sempre baseada em estudos e pesquisas.
Seu know-how também é fonte de referência em assuntos de RH para veículos da grande imprensa, como Gazeta Mercantil, Exame, TV Globo, Folha de São Paulo, entre outros veículos
Eline pesquisa há vários anos tendências do comportamento dos jovens e a influência dos videogames em sua atuação profissional, tendo sido fonte de referência para a imprensa nacional no assunto, especialmente quando se fala em “Geração Y“
Iniciou a carreira na diretoria da Mesbla Loja de Departamentos, atuando como Diretora de Recursos Humanos, Planejamento Estratégico e Organização. Também foi Diretora da Servenco, na holding que congrega empresas de construção, incorporação, administração de imóveis, Hotelaria e Administração de Shopping Centers.

sábado, 6 de julho de 2013

Os prós e os contras das lições de férias em julho

O que é melhor para os alunos nas férias de julho? Atividades para não interromper a aprendizagem ou o puro descanso?
O ideal é que as lições de férias não sejam chatas, extensas e cansativas

As férias de julho chegaram. É hora daquela parada preciosa para recarregar a bateria e recomeçar em agosto com energia total, certo? Nem sempre. Para algumas escolas, as férias de julho estão incluídas no andamento do ano letivo e, por isso, a aprendizagem não deve ser interrompida. Para essas escolas, uma parada total no mês de julho quebraria o ritmo de estudo e atrapalharia o rendimento dos alunos. Por isso, elas propõem alguns trabalhos, pesquisas e deveres. Mas a pergunta que fica é: dá para conciliar as atividades e o descanso? Essas e outras questões são respondidas nos itens abaixo.

1. Por que existem as férias de julho?
As férias de julho surgiram como uma questão trabalhista. É neste mês que os professores tiram os 30 dias de descanso a que todos os profissionais brasileiros têm direito, garantidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Inicialmente, esse recesso acontecia em junho, mas desde a primeira versão da LDB, de 1961, o período foi transferido para o mês seguinte. Em janeiro, os alunos também têm férias, mas os professores passam (ou deveriam passar) o mês fazendo o planejamento do ano letivo que vai começar. "O profissional não pode fazer o planejamento das aulas, organizar seu trabalho e fazer cursos ao mesmo tempo em que dá aulas", diz Maria Ângela Barbato Carneiro, professora da faculdade de Educação da PUC-SP.

2. Há um objetivo pedagógico no descanso/parada?
"Em razão de uma agenda cada vez mais cheia, os alunos estão cada vez mais estressados. Esse distanciamento da escola é muito importante para ajudar aos alunos a refletir melhor", diz Renata Americano, coordenadora geral do Ensino Fundamental da Escola Viva. A parada no meio do ano, portanto, serve pra aliviar a cabeça do aluno e contribui para o aprendizado.

. Qual a finalidade das lições nessa época?
Para algumas escolas, as tarefas nesse período têm a finalidade de aquecer os estudantes para o retorno às aulas. Dessa maneira, eles voltam mais ligados no assunto e não perdem o fio da meada. As lições de férias na Escola Castanheiras, na cidade de São Paulo, por exemplo, servem pra que os alunos não se desconectem do conteúdo visto em junho. Como o planejamento da escola é trimestral, o segundo trimestre, que vai de maio a agosto, é interrompido. "Assim o aluno não se esquece daquilo que ele está estudando nesse hiato de 30 dias", diz Debora Vaz, diretora pedagógica da escola. A Escola Viva, também de São Paulo, tem uma visão diferente. Ali, o importante mesmo é o descanso e a parada em julho não compromete o aprendizado dos alunos. "Eles não perdem o fio da meada, principalmente se o assunto for do interesse deles. Quando eles voltam, passam por um período de retomada dos
assuntos que não é grande", diz a coordenadora Renata Americano.

. E as vivências? Não são importantes para o aprendizado?
Sim, as vivências também são importantes. Muitas escolas, aliás, vêem as férias como o momento de fazer novas descobertas. Um aprendizado de vivências, de coisas que não se aprendem em salas de aula. "Muitas pessoas se preocupam apenas com o conteúdo formal e esquecem o aprendizado do fazer, do brincar. Os alunos estão precisando dessa vivência, da experiência de brincar na praia, de observar a natureza, de ficar com primos e outras crianças. As férias servem para isso e pro descanso", diz Renata Americano, coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I da Escola Viva, de São Paulo. Ali o trabalho pedido aos alunos, geralmente, é trazer algum objeto que remeta às férias e esteja relacionado ao conteúdo. "Não chamamos de lições ou tarefas"

5. Há lição de férias em janeiro?
Em janeiro nunca ocorrem, já que é feita a troca de ano letivo. E o conteúdo muda completamente. Além de os professores mudarem, é claro. "Não faz muito sentido passar lições em janeiro, já que não tem conteúdo novo", diz Renata Americano, coordenadora geral do Ensino Fundamental I da Escola Viva

6. Como deve ser uma lição de férias?
O ideal é que essas tarefas não sejam chatas, extensas e cansativas. Podem, inclusive, ser bastante divertidas e não atrapalhar o descanso da garotada. Marcos Akiau, professor de ciências e laboratório da Escola Morumbi e do Colégio Rio Branco, em São Paulo, procura elaborar tarefas que despertem o interesse de seus alunos. "Não é sempre que passo atividades de férias para meus alunos. Quando decido fazê-lo, procuro desenvolver algum projeto que preencha alguns quesitos: a) Ser interessante ao aluno b) Dar aos alunos algum tipo de "prazer em fazer" c) Ser diferenciado das lições convencionais d) Estar ligado aos conteúdos programáticos e) Ter utilidade futura" Com isso o professor Marcão, como é chamado, garante que seus alunos se empolgam com os trabalhos de férias. "Assim como eu", completa.

7. Como não deve ser uma lição de férias?
As lições de férias não devem sobrecarregar o aluno e atrapalhar seu descanso. A Escola Castanheiras, por exemplo, que sempre passa tarefas nas férias de julho, procura dosar a quantidade de exercícios. "Os trabalhos devem tomar apenas um dia das férias. Ou, se o aluno preferir, pode se dedicar à uma hora e meia por dia durante uma semana. É muito importante que as férias sejam de lazer e ócio. Esse resgate só precisa ser feito no finalzinho.", explica Debora Vaz, diretora pedagógica da escola.

8. Se a escola mandou muita lição o que eu posso fazer?
Se você acha que seu filho está sendo sobrecarregado com lições de férias, converse com o professor. A sua queixa pode ser a mesma de outros pais. No entanto, nem sempre a escola pode atender às vontades de todos. Muitas delas têm um método de trabalho estabelecido e dificilmente vão mudar. O mais importante é ficar atento a essas questões na hora de escolher a escola de seu filho.

9. As atividades de férias devem contar pontos na nota?
Depende do projeto pedagógico da escola. Na Escola Castanheiras, por exemplo, a nota do aluno é dividida entre avaliações complementares (60%) e avaliações tradicionais (40%). "Nas avaliações complementares temos maior 'liberdade poética'; as tradicionais são as provas convencionais, que aqui são trimestrais", explica a diretora pedagógica Debora Vaz. Os trabalhos de férias da Escola Castanheiras somam pontos nas avaliações Complementares.

Sugestão de atividade: Leitura?
Um dos trabalhos de férias mais comum nas escolas é a leitura de livros. E não por acaso. A leitura pode ser mais facilmente associada à diversão. "No fundamental II sempre passamos uma lista de livros. Entendemos que literatura é uma atividade prazerosa", diz Renata Americano, da Escola Viva, de São Paulo
Sugestão de atividade: Registro de Férias
Os alunos devem coletar objetos que lembrem atividades feitas nas férias. "Se a família foi ao cinema poderá trazer o ticket, se foi ao parque poderá trazer uma pedrinha ou uma folha, se foi a um aniversário poderá trazer o convite etc", explica Tica, coordenadora pedagógica da Escola de Educação Infantil Bola de Neve. Em agosto, na primeira semana de aula, é feita a apresentação do diário. "Todos estiveram interessados na fala dos amigos, sempre perguntando sobre o que mais lhe interessava. Conseguiram até identificar passeios semelhantes e assim, fizemos uma atividade matemática com uma tabela que representava os lugares mais visitados: cinema, fazendas, praias etc", diz Ana Alessandra Rea, professora do Grupo 5, de alunos de 5 anos, da Escola Bola de Neve

Texto Camilo Gomide