domingo, 19 de setembro de 2010

Asas da imaginação

Imaginário é importante para o desenvolvimento infantil, ele é o caminho que faz com que a pessoa descubra uma determinada situação sem ter que vive-la de fato. É uma outra dimensão com que as crianças têm de lidar desde cedo. O imaginário delas ainda é concreto.Elas precisam humanizar as figuras: bola tem carinha de gente. Normalmente uma criança aprende copiando modelos e, depois praticando. Essa prática é aquela que vai dar a experiência que ela precisa. Por exemplo, qualquer criancinha que vista a roupa do Homem – Aranha solta o imaginário do Homem – Aranha , finge que joga teia, vai viver como o personagem. È uma espécie de experimentação da sensação sem viver nada de fato, só está exercitando a mente e ganhando experiência.
O papel dos pais é estimular, contar histórias gostosas, com heróis bons , anti-heróis , coisas nessa linha que façam o pequeno aprender a ideia do que é bom e o ruim são tão atraentes que estão deixando as pessoas confusas. Não é difícil encontrar a crianças que admirem vilões.
Isto está acontecendo porque a criança que não tem valores quer fazer o que mais impressiona. Nas telenovelas, os bandidos são heróis. Isso também acontece nas revistas em quadrinhos, jogos de videogame, desenhos animados .... Os bandidos tem tanto poder quanto os mocinhos. Mas a maioria das crianças bem formadas quer ser do bem.São pontos que levam a gente a pensar em como ajudar a organizar esses valores que a pessoa tem que ter . A fantasia é ótima para estabelecer padrões.
O imaginário também tem uma função pedagógica , pelo imaginário a gente pode ensinar muitas coisas ás pessoas. È algo que só os seres humanos tem. Uma das maneiras de passar histórias, valores, situações, juízo, fazer estudar. A criança também vai prospectar o futuro, imaginando que quem estuda tem sucesso na vida . Por meio do imaginário, os pais podem estimular o filho a ser mais cidadão, coisa que ele não teria se só tivesse que obedecer ordens.
O imaginário contribui para auto-estima , ele faz a criança “ viver “ determinada situação e sentir confiança em sua imaginação, acreditar que ela é capaz, boazinha. Ela se sente bem com isso. A auto-estima é se gostar, é ser aprovada por si mesma. São coisas que ninguém consegue colocar em uma pessoa, ela tem que desenvolver por si mesma.
Hoje em dia as crianças estão perdendo o hábito de brincar ao ar livre. Isso é um grande prejuízo para elas, porque o espaço é tão limitado á cadeira e só estão exercitando o lado metal . Daqui algum tempo , é como se o cérebro ficasse grande; e o corpo, pequenininho. É preciso entender que a diversão está no ato de fazer junto e não simplesmente ficar vendo o mundo passar pela telinha. Com a brincadeira ao ar livre, a gente cresce mais saudável, desenvolvendo o corpo e a mente.
( Dr. Içami Tiba psiquiatra e educacionista – Revista DIVA 2009)

Apagão de mão de obra, um pacto à mediocridade

De acordo com dados do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea), em 2008 havia mais oferta de emprego para quem tem mais escolaridade. A concentração das vagas estava nos trabalhadores com uma média de 11 anos de estudos. Hoje, no Brasil, são necessários 12 anos de estudo para completar toda a educação básica – o ensino fundamental e o médio. No entanto, entre os jovens brasileiros de 18 a 24 anos, a média de escolaridade é de 9,1 anos de estudo.
Dados como esses nos fazem pensar, refletir e analisar o papel da escola para com o futuro das nossas crianças: preparamos os jovens de hoje para o quê no futuro? Talvez, a resposta mais adequada seria para uma vida adulta produtiva e responsável. Um ser humano adulto, para ser feliz e realizado, precisa estar de bem em três grandes áreas da vida que vou chamar de mundos: o mundo da família, o formado pela sociedade (amigos, colegas, igreja, etc.) e o do trabalho.
Muito bem, vamos ao mundo da família. Que tipo de exemplo nós adultos estamos dando para os jovens? Respeito, união, comunhão. Ou o exemplo são brigas, separações, pais usando os filhos para se beneficiar? E no mundo social, que exemplos estamos dando? Temos amigos de verdade, respeitamos os outros? Como preparar um jovem para qualquer um desses mundos se eles não podem viver, experimentar, aprender?.
Pergunto ainda: será que é possível uma vida adulta sem o mundo do trabalho? Feliz, eu duvido. A preparação dos jovens para a vida adulta é tão complexa que é tarefa para uma tribo, mas no Brasil delegamos totalmente à escola.
Há 20 anos, tínhamos crianças sendo exploradas sexualmente, trabalhando em carvoarias, cortando cana, quebrando pedra, vendendo coisas nas ruas. Criamos um monte de leis, genéricas, mas não definimos o que é criança, o que é trabalho, nem separamos o trabalho pedagógico que desenvolve habilidades do trabalho degradante. Hoje, temos a mesma realidade, a mesma exploração das crianças, e mais 34 milhões de jovens fora da escola e sem trabalho. Temos, sim, 98% das crianças brasileiras iniciando o ensino fundamental, mas, de cada 100 que entram na 1ª série, 50 crianças chegam a 5ª sem saber ler um texto de 5 linhas e contar o que leu, ou seja, analfabetos funcionais; 40 abandonam a escola antes de terminar a 8ª série porque não conseguem acompanhar a segunda etapa do ensino fundamental que requer interpretação e, por não acompanhar, abandonam a escola.
Em um passado não muito distante, a partir dos 12 anos, a criança acompanhava o pai no contra turno para aprender o ofício da família. Se gostava de estudar e o pai era pedreiro, eletricista, agricultor, o filho tornava-se engenheiro, agrônomo, etc. Se não gostasse de estudar, tornava-se um mestre de obra, agricultor como o pai, mas tinha trabalho, e sabia trabalhar...

Texto de Ademar Batista Pereira, presidente das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR)

Tempo de Escolher

Tom Coelho

Muitos amigos leitores têm solicitado minha opinião acerca de qual rumo dar às suas carreiras. Alguns apreciam seu trabalho, mas não a empresa onde estão. Outros admiram a harmonia conquistada, mas não têm qualquer prazer no exercício de suas atividades. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente desfavoráveis, porém desafiadoras. Outros têm diante de si um vasto leque de opções, muitas coisas por fazer, mas não conseguem abraçar a tudo.
Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de escolhas. Lembro-me de Clarice Lispector: “Entre o sim e o não, só existe um caminho: escolher”.
Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo de sua trajetória pelo “dilema da virada”. Um momento especial em que uma decisão específica e irrevogável tem que ser tomada apenas porque a vida não pode continuar como está. Algumas pessoas passam por isso aos 15 anos, outras, aos 50. Algumas talvez nunca tomem esta decisão, e outras o façam várias vezes no decorrer de sua existência.
Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para viabilizar outros. Você troca segurança por desafio, dinheiro por satisfação, o pouco certo ao muito duvidoso. Assim, uma companhia que lhe oferece estabilidade com apatia pode dar lugar a uma dotada de instabilidade com ousadia. Analogamente, a aventura de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento.

Prazer e Vocação

Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da Vinci que dizia: “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário. Porém, refletindo, passei a compreender que quando estimamos aquilo que fazemos, podemos nos sentir completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas procurarmos fazer o que gostamos, sempre estaremos numa busca insaciável, porque o que gostamos hoje não será o mesmo que prezaremos amanhã. Todavia, é indiscutível a importância de alinhar o prazer às nossas aptidões. Encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós ao que chamamos vocação. Oriunda do latim vocatione, e traduzida literalmente por “chamado”, simboliza uma espécie de predestinação imanente a cada pessoa, algo revestido de certa magia e divindade. Uma voz imaginária que soa latente, capaz de converter advogados em músicos, fazer engenheiros virarem suco. É um lugar no tempo e no espaço onde a felicidade tem sua morada.
Escolhas são feitas com base em nossas preferências. E aí torno a recorrer à etimologia para descobrir que o verbo “preferir” vem do latim praeferere e significa “levar à frente”. Parece-me uma indicação clara de que nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso de nosso livre-arbítrio.
O mundo corporativo nos reserva muitas armadilhas. Trocar de empresa ou mudar de atribuição, por exemplo, são convites permanentes. O problema de recusá-los é passar o resto da vida se perguntando: “O que teria acontecido se eu tivesse aceitado?”. Prefiro não carregar comigo o benefício da dúvida. Por isso, opto por assumir riscos calculados e seguir adiante. Somos livres para escolher, porém prisioneiros das consequências.
Para aqueles insatisfeitos com seu ambiente de trabalho, uma alternativa à mudança de empresa é postular a melhoria do ambiente interno atual. Dialogar e apresentar propostas são um bom caminho. De nada adianta assumir uma postura defensiva e crítica. Lembre-se de que as pessoas não estão contra você, mas a favor delas.
Por fim, combata a mediocridade em todas as suas vertentes. A mediocridade de trabalhos desconectados com sua vocação, de empresas que não lhe valorizam, de relacionamentos falidos. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, mentiras inteiras, meio caminho para o fim.
Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: “Ele viveu com paixão?”. Qual seria a resposta para você?
”Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renuncia.” (Albert Schweitzer)

TAREFA DE CASA

O verdadeiro significado da aprendizagem

A aprendizagem é um fenômeno cerebral que envolve intensa atividade das células nervosas, pode ser entendida como um complexo processo de aquisição de conhecimento, levando a modificação de comportamento do aprendente.
Trata-se da habilidade mais fundamental e essencial da espécie humana pois é ela que garante a sobrevivência de seus membros .Enquanto os animais sobrevivem guiados pelos instintos, nós o fazemos apoiados na aquisição de conhecimentos. Até os impulsos desencadeados pelos nossos instintos devem ser aprendidos. Aprendemos como comer, como nos defender, como dormir, como procriar ....Podemos afirmar com segurança que o bebê é programado para aprender, começando com o mamar e terminando com a morte. A vida é um longo , ilimitado e infindável aprender

Inspirados nas colocações de Jean Piaget, que fala da aprendizagem em termos de assimilação, acomodação e equilibração, podemos fazer a seguinte leitura neuropsicológica destes sete passos:

1. Ter necessidade desejo, interesse, motivação para aprender.
2. Encontrar o assunto, a matéria, a leitura, o programa..
3. Captar tais informações através dos sentidos que as encaminham para as áreas especificas, assistindo aula, lendo livro, vendo filme...tudo isso com atenção bem focalizada.
4. Processar inicialmente este conteúdo, quando zonas cerebrais fazem o primeiro reconhecimento da informação que está chegando.
5. O cérebro procura tornar significativo aquele assunto, prestando especial atenção aos conteúdos que se ajustam aos interesses e motivações.
6. O cérebro seleciona o que deverá ser armazenado e elimina o que não é significativo.
7. Finalmente a informação é assimilada, ou seja , ocorre a aprendizagem.Toda e qualquer aprendizagem se converte, de imediato, em abertura ou vontade de novo conhecimento.

Não “se aprende” em sala de aula

Analisando mais intimamente esse passos dentro da educação formal, percebemos que a presença do professor é imprescindível e essencial apenas nos itens 2 e 3, pois incumbe a ele a escolha do assunto da aula (2) e o uso das estratégias pedagógicas (3) para garantir o máximo de atenção do aluno. Já nos passos 1 e 4 sua importância é secundária .Quem deve ter vontade e fome de aprender é o discípulo- trata-se da motivação intrínseca.
Se ela não tiver em grau mínimo que seja, qualquer esforço ou tática do docente
Será em vão , o que sintetiza .
Contudo desinteresse não seja total, cabe ao professor usar de todos os seus trunfos de motivador extrínseco para incentivar e facilitar o processo (4) , que já consiste em uma tarefa interna .
Os passo seguintes – exigem um longo processo que somente chegara a assimilação final durante uma boa noite de sono. Descobertas recentes já comprovam que durante a fase do sono chamado lento, o conteúdo do hipocampo , a área nervosa cituada no meio do cérebro e sede da memória recente, é encaminhado para o cótex central, centro nervoso onde ocorre a memória de longo prazo, onde acontece a consolidação da verdadeira aprendizagem . Por isto o aluno em sala de aula ele capte a mensagem que deposita na memória de curto prazo. Para efetivar a aprendizagem ele deverá rever e retomar esta primeira informação realizando exercícios de consolidação.
Daí, onde podemos concluir que : A tarefa de casa é uma atividade pedagógica imprescindível para que ocorra a assimilação cerebral do assunto estudado , a que comumente chamamos aprendizagem.

Caro pai, acompanhe e oriente o dever de casa de seu filho. Mas deixe –o resolver os problemas com o seu próprio esforço. E você verá alegria e o imenso prazer que ele sentirá ao alcançar a verdadeira aprendizagem.

Meu professor amigo, suas boas aulas são o início do jogo.Seja o grande motivador para que seus alunos façam as tarefas e marque o gol da vitória – a aprendizagem almejada.

Egídio Romanelli - Doutor em neuropsicologia

A imaginação educadora

Gabriel Perissé

Ficamos perplexos todas as vezes que percebemos a discrepância entre o desejado e o realizado, a distância entre o céu das ideias e o "x" da realidade.
É desanimador, no campo da educação, conhecer as boas intenções pedagógicas, a generosidade das teorias libertadoras, e, por outra parte, viver uma constante "volta as jaulas", a sensação de que estamos na sala de aula com mãos e pés atados.
A didática que reencanta a escola, a avaliação inteligente, a vitória da criatividade sobre a burocracia, a educação verdadeiramente inclusiva, a ética e a estética comandando a ação docente, as mil e uma estratégias para despertar o interesse de cada aluno... tudo isso ocupa as paginas dos livros e revistas, e dessas paginas não sai.
E não saímos nos da perplexidade. Lemos que uma avaliação que exige respostas rígidas nada avalia. E são respostas rígidas o que nos pedem em concursos públicos para professores.
Aprendemos que o importante é aprender a aprender... e depois aprendemos, a duras penas, que continuamos a praticar o instrucionismo, o adestramento, cobrando dos alunos que se atenham aquilo que o seu mestre mandou.
Ouvimos em palestras e em cursos de formação que estamos na Idade Midia, que devemos estar plugados e conectados, porque conectados e plugados estão os alunos. Que devemos ser professores digitais porque os alunos estão nascendo com cabeças digitais... e, na prática, do pó de giz viemos e ao pó de giz retornaremos!
Depois de um carnaval cheio de sonhos, rasgamos a fantasia e voltamos a viver o calvário da escola sem graça. Quando ressuscitaremos?

Uma jovem poeta paraibana, Iasmin Mendes, cujo livro Somente poesia (2008) ganhei de presente, ajudou-me a vislumbrar uma resposta para esse abismo entre mundo ideal e cotidiano real. Tinha 11 anos de idade quando escreveu esses versos, do seu poema
"Imaginação":
As vezes você se pergunta: "O que fazer quando a realidade boa não está?" E eu respondo rapidamente "Basta você imaginar"
[...]
A imaginação não é uma mentira Mas para a realidade uma solução Nossa realidade melhora quando usamos a imaginação
Então continue usando tua imaginação, pois ela sempre lhe leva Ao caminho da razão
A imaginação educadora preenche o abismo, a discrepância. Não é sonho vazio, é trabalho racional, é auxiliar do pensamento, amiga da lógica. Quando imaginamos com realismo, descobrimos formas de transformar nossa realidade.
Imaginar e projetar. Projetar-se é lançar-se a frente, adiantar-se, dirigir-se para o futuro, administrando as tensões entre a utopia e o dia a dia.

Artigo publicado na revista Profissão Mestre de abril de 2010.

Educação: Caminho para a Mobilização Social

Uma sociedade instruída pressupõe a capacidade de aprendizagem contínua. Educar para a cidadania global é procurar desenvolver a compreensão de que o indivíduo é parte de um todo, um microcosmo dentro de um macrocosmo, parte integrante de uma sociedade. Isso pressupõe uma nova filosofia de vida que exige compreensão da globalidade em que estamos inseridos.
Viver em um mundo globalizado já não é futuro, faz parte de nosso cotidiano, ou seja, as mudanças ocorridas na sociedade implicam em ações para a transformação social. O mundo é dinâmico, independentemente de desejarmos ou não, a evolução ocorre, trazendo a tecnologia, que exige da humanidade não só mudanças na maneira de pensar, mas também na de agir e interagir.
Há muito tempo, a escola deixou de ser um espaço somente para o desenvolvimento cognitivo daqueles que a frequentam, hoje essa instituição deve ser encarada também como um ambiente fundamental para ampliação das relações sociais. Assim, igualdade e diferença devem conviver em harmonia nessa instituição, pois todos, sem exceção, têm o direito à Educação. E, para isso acontecer, precisamos estar preparados para reconhecer e valorizar as diferenças, sem negá-las nem discriminá-las.
Fazer parte dos novos tempos, enquanto professor, não depende apenas de equipamentos de última geração (computadores, lousa eletrônica ...) que permitem uma imensa interação, mas, sobretudo uma revisão da metodologia para alcançar o objetivo e cumprir uma das exigências do nosso século. Interação, integração parecem ser palavras de ordem nas instituições educacionais, entretanto, enquanto o aluno for relegado a um papel receptor, menos diferença a tecnologia fará no aprendizado.
A informática é uma ferramenta que permite compartilhar conhecimento, estimulando o raciocínio e as atividades de pesquisa, propicia a interação, a inclusão de superdotados e portadores de necessidades especiais, para isso é necessário que o profissional domine a ferramenta, tenha boa vontade, receba orientações dos especialistas e seja apoiado pelos gestores da escola, pois oferecer educação de qualidade significa fazer adaptações físicas e pedagógicas, a fim de que ocorra a aprendizagem. Aluno com dificuldade é o desafio do professor, pois faz com que aprendamos mais. Uma escola aberta às diferenças é o desafio deste século: uma escola na qual o princípio da inclusão seja o leme a orientar sua organização.
Sabe-se que para a instituição escolar, seja ela pública ou privada, oferecer a inclusão com foco na aprendizagem, ela precisa promover sua autonomia, ou seja, ter a capacidade de decidir sobre suas ações, atendendo às prioridades dos alunos que fazem parte da educação inclusiva. Uma escola autônoma tem liberdade com responsabilidade, quando se permite julgar pelos seus atos, os quais têm consequências diretamente proporcionais à parcela da sociedade a quem está vinculada.
Uma educação de qualidade é aquela que se manifesta além dos muros da escola, atendendo às necessidades de cada indivíduo.
Enfim, para obter bons resultados com classes multisseriadas, é imprescindível superar os pontos fracos e praticar ativamente os pontos positivos.

“É necessário acreditar que, diferentes, somos todos. Limitados somos sempre em relação a alguma coisa ou a alguém! Misteriosos somos todos, porque insondáveis, inconclusivos e surpreendentes somos como seres humanos.’’
(Gaio, 2006, p.173)

Texto de Fatima Lopes Acar Macedo, mestra em Ciências Sociais, especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica

Diferentes porém iguais

Frequentemente leio textos sobre a utilização da internet e das novas ferramentas tecnológicas em sala de aula, que recaem sempre em dois pontos: vamos mudar tudo, afinal as novas gerações não aprendem da mesma forma que as anteriores; vamos incorporar as novas tecnologias, mas manter a velha disciplina, pois a nova geração é muito dispersa.
Ambas abordam as mudanças no comportamento e formas de socialização dos jovens. Os defensores da primeira entendem que os defensores da segunda são conservadores, enquanto que estes acusam os primeiros de abandonarem tudo muito depressa. Pessoalmente não acredito no discurso que afirma serem as novas gerações mais capazes de apreender informação, de lidarem simultaneamente com múltiplos assuntos, ou de que “são mais espertos”, como ouvimos tantos pais falarem de seus filhos. Realmente, eles nasceram em um mundo no qual as fontes de informação estão muito mais acessíveis, mas entre ter o acesso e ser capaz de empregar o conteúdo de maneira inovadora há uma longa distância! As crianças lidam sem sustos com as novas tecnologias, pois nossos processos de socialização mudaram, e não por alguma mudança biológica! Uma criança no séc. XIX, vivendo em uma fazenda, era socializada de outra forma e aprendia a lidar sem medo com a terra. Quantos de nós somos capazes de fazer de uma área de mata nativa uma fazenda produtiva? Ou de cultivar, com sucesso contínuo, uma horta nas grandes cidades? São conhecimentos diferentes, mas não são uns melhores do que os outros.
Alguns autores afirmam que as novas gerações vivem em um ambiente plenamente virtual, uma sociedade virtualizada. Ora, a capacidade de imaginar, de viver momentaneamente em um plano irreal, não é exclusiva da geração contemporânea! Não é de hoje que as crianças brincam e imaginam que são outras pessoas e que estão em lugares distantes. Inventar histórias, criar mundos fantásticos, são coisas que fazemos desde que passamos a nos sentar ao redor de uma fogueira. O que o plano virtual de hoje faz é potencializar as nossas reuniões, de modo que a comunidade ao redor da fogueira se tornou imensa. E, com um número maior de pessoas opinando, o debate pode ficar muito mais produtivo e criativo. Vejam: pode ficar! Pois muitos debates ocorrem entre indivíduos imersos em seus próprios mundos virtuais, que encerram qualquer discussão em que seus pontos de vista sejam questionados simplesmente clicando no X, no canto superior direito da tela. Querem a homogeneidade e não as diferenças que potencializam o desenvolvimento de novas ideias.
Como professor, já trabalhei em situações diversas: do giz no quadro e cadernos até salas com datashow, lousa digital e alunos com notebooks. Do presencial ao EAD (Ensino a Distância). Dei aulas em varandas de casas em assentamentos rurais, os alunos sentados em caixotes, com uma tábua como mesa, sem quadro e nem giz. Aprendi que meu papel é realmente o de condutor, de guia para o aprendizado e a reflexão, mas que é a disposição do aluno que o fará aprender. Nenhum recurso tecnológico garante a atenção de uma sala de aula. Podem até atrapalhar, pois muitos jovens parecem acreditar que basta acessar a aula em casa e todo aprendizado acontecerá como em um download. Que basta copiar um site encontrado no Google provar que aprendeu algo. Mas também já vi o potencial de tais ferramentas nos alunos interessados em aprender. São esses que avançam rapidamente.
Com toda força da virtualidade, ainda vejo muitos jovens buscando as velhas construções da sociabilidade direta, só que suas possibilidades de escolha se ampliaram.

Texto de Vitor Barletta Machado, graduado em Ciências Sociais-Sociologia pela Unicamp, mestre em Sociologia pela USP e Doutor em Sociologia pela Unicamp.