sábado, 27 de agosto de 2011

Lei, palmada ou diálogo?

Palmada no passado era método pedagógico e, portanto, pais e professores tinham direito legítimo de uso. Mas os estudos evoluíram e hoje sabemos que castigo físico não garante aprendizagem. Pode até parecer que garante porque, como ninguém gosta de apanhar, inibe comportamentos inadequados mais rapidamente. Na ausência do agressor, porém, a atitude criticada reaparece. O que revela que não houve aprendizagem de fato. Portanto, a discussão não deve ser se bater deve ser proibido por lei, mas de que forma conscientizar quem educa – em todas as instâncias – de que, com objetivos claros, segurança e afeto, se conseguem melhores resultados do que com agressão física.
Se parece que nossos antepassados conseguiram mais com os jovens do que se consegue hoje, seguramente não foi porque nossos avôs batiam nos filhos... O que ocorreu foi que uma série de fatores se conjugou nas últimas décadas, tornando educar um desafio gigantesco: a influência das novas mídias exacerbando o consumismo; a corrupção (e a impunidade) por parte dos que deveriam dar o exemplo aos mais jovens; a desestruturação da família; a ausência de ambos os pais em casa são apenas alguns deles. Com isso, os pais acabaram perdendo o foco do que é realmente importante. Muitos hoje consideram sua tarefa principal “fazer o filho feliz”, o que acaba resultando em apenas satisfazer desejos e vontades. Anteriormente, era “fazer dos filhos homens de bem”, significando priorizar fundamentos éticos na educação. E isso se alcança com muito diálogo, ensinando a pensar e a não se deixar conduzir por mídias ou grupos. No entanto, é tarefa quase inexequível para quem não tem certeza do que é prioritário.
Em vez de novas leis, o que a sociedade precisa é realocar a ética – para si e para as novas gerações; também fundamental é resgatar conceitos deturpados. Afinal, autoridade não é sinônimo de autoritarismo; democracia e liberdade não significam fazer apenas o que se tem vontade. Como se ensina isso: com lei ou com palmada? Nem com um, nem com outro.
Obviamente, ainda há muito a ser feito quanto à inclusão e melhoria da qualidade do ensino, multiplicação do número de bibliotecas públicas e disseminação do hábito de leitura. No entanto, os avanços são inegáveis nos 188 anos de nossa Independência, comemorados no 7 de setembro de 2010. Em todo esse período, o livro tem sido um dos protagonistas dos processos de transformação política e social, pois a conquista do conhecimento é essencial para credenciar pessoas e povos à plena liberdade!
A nossa é a geração do diálogo, a que acreditou que a melhor forma de comunicação interpessoal se faz através da discussão e da troca de ideias. Mas será que, na prática, o diálogo está efetivamente acontecendo? Pais e filhos, professores e alunos, colegas de trabalho estão verdadeiramente sabendo ouvir, falar e reivindicar? Infelizmente, não. São muitos os que não sabem dialogar. Alguns usam o diálogo como bandeiras para alcançarem o que desejam e, em seguida, se mostram autoritários, fazendo com isso grassar a desesperança e a descrença entre os jovens. Outros o abandonam à primeira dificuldade. Entender-se de verdade com o outro, mantendo a ética e o equilíbrio frente a opiniões e objetivos contrários aos seus, é tarefa difícil - e raros são os que dominam tal competência.
Quem é autoridade e deseja exercê-la de forma a congregar, alcançar adesão e favorecer a afetividade – seja pai, chefe ou professor – deve utilizar o diálogo como forma de busca de entendimento. Todos – líderes e liderados – precisamos estar cientes, porém, de que nem sempre seremos atendidos em tudo. É o que torna o diálogo tão difícil: a expectativa utópica de que, através dele, todos os anseios se concretizem. Ocorre, porém que entendimento não é atendimento. Não se pode supor que só houve diálogo quando atendem a tudo o que desejamos; diálogo é troca, análise, decisão; não é imposição.
No diálogo verdadeiro não há vencedores nem vencidos, há, isso sim, pessoas ou grupos que se ouvem sem pré-julgamentos; há respeito recíproco e intenção concreta de analisar argumentos e reivindicações. E, mais importante: há, ao final, aceitação das decisões tomadas pelo grupo ou pela autoridade – ainda que nem sempre tais decisões contemplem, no todo ou em parte, aquilo que todos e cada um desejavam.

Texto de Tania Zagury, filósofa e mestre em Educação.
Email:tania@taniazagury.com.br

O filho do meu vizinho é um gênio !!!


Tem pai que se vangloria do filho que acessa a internet. Filho que usa o computador, liga e desliga o videogame com os olhos vendados e as mãos para trás. Mãe que exibe o filho aos seus tios e tias: nós temos internet lá em casa e o Ronaldinho, que tem apenas 9 aninhos, já sabe fazer tudo.

Mas o que significa “fazer tudo”? Imaginar que o filho do vizinho aperta todos os botões sem dificuldade é realmente um dom, um momento para celebrar, fazer um bolo e chamar os amigos? Não, não é. Nesta história que parece “O filho do meu vizinho no país das maravilhas”, uma palavra me assusta: conteúdo.

A janela ou a porta que se abre com o computador no quarto da criança ou do filho adolescente é uma entrada para o bem e para o mal. Não é função dos pais o controle do que os filhos veem pela janela? “Não abra a porta para estranhos”, não é assim que aprendemos? E o que a internet possibilita? Possibilita que se conheça pessoa que não conhecemos pessoalmente. Será que conhecemos mesmo, então? Não creia que seu filho adolescente vai se encher de um discurso franciscano ao espiar a internet. Mas não quero o discurso moralista para esta reflexão, quero o discurso da pesquisa. Ou o discurso da “falta de pesquisa”.

Fico pasmo, como economista, vendo gente sem dinheiro babando na frente de uma TV LCD, digital, de plasma. Para que comprar uma TV linda, se o conteúdo é horrível? A desculpa logo vem: é para ver melhor. Parecem as mesmas palavras que o lobo mau disse à Chapeuzinho. Ver melhor o quê? Meio sem querer, colocamos o lobo mau dentro da casa da vovozinha. Estamos comprando e assistindo máscaras. Máscaras de conteúdo.

Olhamos para um computador de penúltima geração e perguntamos: o que ele faz? Esquecemos que a pergunta correta seria: ele faz o que eu preciso? Eu preciso do que ele faz?

Por isso, penso eu, o filho do vizinho que sabe apertar um botão, navegar na internet, acessar o Google, o Toodle, está em contato com tudo o que a internet oferece. E onde está o discernimento, o espírito crítico que poderia ser desenvolvido pelos pais e outros educadores nessa oportunidade? Nessa chance desperdiçada de explicar ao jovem guri que o bem e o mal existem, que a verdade e a mentira existem, que a informação e a desinformação coexistem, que o correto e o incorreto moram juntinhos no mesmo lugar, e que, ao ler uma notícia, deve-ser ter olhos hábeis, mente desperta, mãos operantes, ouvidos que funcionam como filtros?

Comprar do jeitinho que eles estão vendendo? Senhores educadores, não dá. Num próximo texto contarei como leio jornal. Leio dois jornais todos os dias. Mas este segredinho fica para depois.

Muitos ficam abismados com o fato das gerações que habitam o planeta há menos tempo ligarem aparelhos ultramodernos, operarem tecnologia que antes não era conhecida, lidarem com botões com uma facilidade de Fred Astaire dançando pra lá e pra cá. Muitos ficam tão abismados que realmente acabam criando um abismo entre esta e aquela geração. Esquecem que sempre haverá um novo botão. Acho que arco e flecha já é tecnologia. Computador, certamente, também é. Mas arco-e-flecha pode ser usado para matar ou para se defender. O computador também. O celular também. O homem tecnológico também.

Li com os olhos cheios de lágrimas uma reportagem sobre uma garota que venceu um campeonato estúpido: quem conseguisse digitar uma mensagem no celular em menor tempo seria o vencedor. A foto vencedora se assemelhava à vitória de concurso de Miss Mundo. O Haiti caindo aos pedaços e nós aplaudindo uma guria que digita uma mensagem qualquer, mas bem rapidinho. Estou chegando à seguinte conclusão: a filha do meu vizinho também deve ser um gênio. Deve ser.

Estamos ensinando nossos nobres filhos digitais a utilizarem garfo e faca para comer direitinho, mas não estamos ensinando a eles como preparar a comida.

Artigo divulgado na Revista -Profissão Mestre de abril de 2010
César Augusto Dionísio - economista e professor e autor do livro Mais Textos: uma visão sobre a Educação

Elogio e Reconhecimento

Esse é o título do artigo publicado na revista Indústria de Minas, da Fiemg, por Eloi Zanetti, especialista em marketing e comunicação corporativa. É impressionante as semelhanças que encontramos do relato com as situações da nossa vida no dia a dia. Diz o artigo que Akira Kurosawa, hoje cineasta, era considerado por todos e até por ele próprio um “completo imbecil”. Era uma pessoa totalmente inexpressiva durante sua vida de infância e até a adolescência.
Mas foi um professor de Arte que, vendo um de seus trabalhos na sala de aula, teceu alguns comentários colocando-o em destaque na sua turma e enaltecendo suas qualidades, até então nem vistas por ele, com “demorados elogios”. Foi o bastante para ele se enxergar e dar um rumo à sua vida, e carregar consigo aquele elogio, e passou a fazer tudo por merecê-lo.
São inúmeras as situações que encontramos em que as pessoas debocham de colegas e amigos inibindo um potencial que poderia ser desenvolvido. Também são inúmeras as oportunidades que temos de tecer comentários elogiosos às pessoas que nos cercam e que poderiam, como o professor de Arte de Kurosawa, ser o norte para muitos, e infelizmente não nos damos conta disso.
Na maioria das vezes é preciso que alguém perceba as qualidades ou mesmo o potencial de alguém, que possa ser desenvolvido, e teça um elogio demonstrando um reconhecimento de um aspecto positivo da pessoa.
Conta-se no artigo em questão que, estando o autor viajando pelo interior do Paraná na companhia do músico Luiz Gonzaga, o rei do baião, durante uma breve parada numa churrascaria de beira de estrada, Luiz Gonzaga perguntou ao garçom que o serviu, em voz alta: “Moço, você é o dono do estabelecimento, não é?” Recebendo um não, obviamente já percebido pelo músico, mas este ainda disse: “É, mas não vai demorar muito e você vai ter a sua própria churrascaria. Tenho observado o seu trabalho, e você tem tudo para ser o dono do seu próprio negócio.”
Agora, imagine o garçom recebendo um elogio desses em público e ainda mais por uma figura como Luiz Gonzaga!
É interessante também notar que até uma certa fase de nossas vidas não conseguimos enxergar as oportunidades que nos cercam ou mesmo o meio em que estamos. O adolescente, na maioria das vezes, volta-se para questões irrelevantes próprias de sua idade e nos faz pensar: como é possível que ele não perceba a importância de certas coisas que nós, pais ou professores ou mesmo como simples adultos, queremos que ele valorize?
Quando adultos nos tornamos profissionais e especialistas em algum tipo de atividade, mas se não formos notados enquanto alunos e adolescentes também seremos como o cineasta: invisíveis aos olhos dos outros. Devemos praticar essa não tão difícil atitude do professor de Arte: elogiar as pessoas mostrando a elas e a todos o seu lado positivo. Vamos ajudar muita gente a encontrar seu caminho.

Texto de Carlos Antônio dos Santos, professor de Física e Matemática, enviado ao Jornal Virtual.